O cenário do comércio internacional acaba de sofrer uma reviravolta significativa.
Na tarde desta quinta-feira, 29 de maio, a Justiça Federal dos Estados Unidos restabeleceu as tarifas aplicadas pelo ex-presidente Donald Trump contra mais de 180 países.
Essa decisão recente reverteu um bloqueio anterior do Tribunal de Comércio Internacional dos Estados Unidos, que havia julgado que Trump excedeu sua autoridade ao impor taxas generalizadas com base em poderes emergenciais.
A nova decisão, que atende a um pedido da Casa Branca, reacende o debate sobre o protecionismo e seus impactos globais.
O “tarifaço”, como ficou conhecido, inclui taxas de 20% sobre a China, 25% sobre todos os produtos importados do México e do Canadá, e taxas universais de 10% sobre todos os produtos que entram nos Estados Unidos, incluindo os brasileiros – tarifas que haviam sido suspensas e agora voltam a valer.
Além disso, as taxas de 25% sobre produtos como aço, alumínio, autopeças e automóveis não haviam sido afetadas pelo bloqueio anterior e continuam em vigor. Com ao menos sete ações judiciais contestando as medidas de Trump, a disputa pode, inclusive, chegar à Suprema Corte do país.
Diante desse contexto ainda incerto, voltamos à pergunta: o que o Brasil pode (e deve) fazer diante desse novo cenário do comércio global?
Um mundo redesenhado pelo protecionismo
As tarifas não são novidade. Desde 2018, no seu 1º governo, Trump deu início à sua cruzada contra o que chamava de práticas comerciais desleais, principalmente mirando a China.
Mas os efeitos foram além: criaram um cenário de incerteza para empresas globais e abriram espaço para rearranjos nas cadeias de fornecimento.
Com as tensões entre Washington e Pequim, empresas buscaram rotas alternativas. Surgiram os termos “nearshoring” e “friendshoring”, estratégias para aproximar fornecedores e parceiros considerados politicamente alinhados. De acordo com a OCDE, essas mudanças tendem a se manter e até se intensificar no médio prazo, mesmo com mudanças de governo nos EUA.
Um relatório do FMI publicado em abril de 2025 destaca que cadeias produtivas estão sendo reconfiguradas, com oportunidades surgindo para países com estabilidade institucional, boa infraestrutura e capacidade de resposta ágil.
No entanto, países que não se adaptarem com velocidade devem perder espaço.
Além disso, dados da Organização Mundial do Comércio mostram que o número de medidas protecionistas em vigor no mundo aumentou quase 30% entre 2020 e 2024, indicando que essa não é apenas uma tendência norte-americana, mas um movimento mais amplo.
Trump, tarifas e o Brasil: impacto direto e reação necessária
Apesar de estar longe do centro do conflito EUA-China, o Brasil sente os reflexos diretos. O agronegócio, por exemplo, ganha espaço em mercados deixados vagos por chineses, mas esbarra em barreiras ambientais e exigências de rastreabilidade.
Já a indústria automotiva, altamente globalizada, sofre com custos logísticos altos e com a falta de acordos comerciais mais abrangentes.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta problemas antigos, como infraestrutura deficiente, carga tributária elevada e baixa inserção em cadeias globais.
Em termos logísticos, o Brasil ainda fica atrás de rivais regionais como México, Chile e Colômbia, segundo rankings do Banco Mundial. E, apesar de algumas reformas em andamento, a morosidade institucional ainda afeta a previsibilidade para investidores internacionais.
Ainda assim, especialistas veem espaço para o país se reposicionar.
O Brasil tem potencial de ser um parceiro estratégico dos EUA, desde que saiba jogar com inteligência, apostando em setores de alto valor agregado, como tecnologia verde, alimentos sustentáveis e serviços especializados.
Além disso, há oportunidades pouco exploradas em nichos como biotecnologia, transição energética e economia circular, áreas em que o Brasil pode conquistar vantagens competitivas.
Futuro da indústria: cinco caminhos para virar o jogo
Para a indústria brasileira, os caminhos possíveis incluem:
Tarifas à parte, o Brasil precisa pensar grande sobre sua indústria
A decisão recente dos EUA é um lembrete de que a política comercial continua sendo uma ferramenta de disputa entre potências. Para o Brasil, mais do que uma ameaça, esse cenário pode ser um empurrão para agir.
A indústria brasileira precisa olhar para fora, mas também para dentro: reduzir entraves, inovar e buscar alianças. O momento exige menos lamento e mais estratégia.
Cabe ao país repensar sua posição no tabuleiro global, apostando em competitividade, diplomacia econômica e visão de longo prazo. O cenário exige respostas à altura: a hora de agir é agora.
Quer saber mais sobre como esses movimentos podem impactar os negócios brasileiros?
Ouça o episódio do podcast Talk de Negócios, da FIESC, com Oliver Stuenkel e Marcos Troyjo e entenda como o Brasil pode encontrar caminhos para crescer mesmo diante das tensões globais.